O que você precisa saber sobre uma viagem para o Peru e não te contaram…
- Jorge Abdon
- 10 de out. de 2024
- 8 min de leitura
Atualizado: 16 de out. de 2024
Sempre tive uma fixação em conhecer as ruinas Incas de Machu Pichu e a história dessa civilização sulamericana que está no nosso imaginário como os "Deuses Astronautas". Pois bem... Surgiu a oportunidade e depois de seis meses de planejamento e uma grana de investimento, fomos... O que vivemos lá me incentivou a criar este blog.
Abordo vários itens importantes da viagem e alerto: As opiniões são de cunho estritamente pessoal. Você considera se quiser.
Aeroportos
O aeroporto de Lima não é grande (você não está na Europa nem nos USA). As coisas funcionam mas, pelo tamanho e pelo volume de turistas, está sempre muito cheio de gente.
É comum você ter que embarcar por ônibus e pior, o portão muda sem alerta sonoro e eles não chamam para o embarque… portanto, fique ligado pra não perder seu voo…
Aeroporto de Cuzco: Cuzco é a base pra quem quer conhecer Machu pichu. Aeroporto pequeno, estrutura limitada (eles até usam tecnologia, mas apenas ameniza o volume). muita gente, pouca estrutura de restaurante, bar. É pra chegar ou sair… uma espera de 2 horas por um voo será cansativo.
Hospedagem
Tivemos a iluminação de gastar um pouco mais e ficar nos melhores hotéis. Isso se revelou uma excelente ideia. Os hotéis que ficamos são muito bons mas nada de excepcional. Rolam os mesmos perrengues que conhecemos no Brasil. Ar condicionado que não funciona, secador que dá defeito, serviço de quarto que demora… E olha que ficamos no Sonesta… rede norte americana… mas, como eu já disse, você não está nos USA.
Hotel de águas calientes: para visitar Machu pichu precisamos passar a noite em águas calientes, povoado a base da montanha. Hotel bom, preços dos USA, e pasmem: Não tem quartos com ar condicionado… nem insista.
Clima
Viemos no fim de setembro. Ainda frio, mas sem exagero. Não encha sua mala de casacos. Um só, de preferência com corta-vento, é suficiente. Você não está indo passar Natal em Nova York. não exagere pra não ficar carregando peso a toa…
Cuzco está a 3.400 m acima do nível do mar. O ar é rarefeito e você VAI SENTIR os efeitos. Pulso acelerado, cansaço, respiração ofegante, dor de cabeça e alguma confusão mental (no início). Não ignore isso. Muita água, chá de coca ajuda (não tenha preconceito, não vai te viciar) e use bebida alcoólica com moderação. Uma ressaca nessas condições é horrivel.
Lima está ao nível do mar, fato que lhe entrega um clima muito mais agradável. Úmido e frio (sem rigor), confortáveis 15 a 20 graus. Céu cinza a maior parte do tempo pelas características do relevo, clima e localização. Não espere “deu praia”, a praia existe, as ondas existem (e os surfistas curtem - de noepreme) mas nada de Copacabana, Pipa ou Praia do Forte… Nada de bikini nem caipirinha a beira mar… o clima é ótimo para passear, devidamente agasalhado.
Comida
O Peru já foi eleito algumas vezes como destino mundial de gastronomia. E vou te falar… realmente, aqui se come muito bem … E a preços muito aquém de certos absurdos que encontrei nos USA ou na Europa… preços compatíveis com Brasil.
Não tenha preconceito. Experimente o “Cui” (porquinho da índia) assado. É delicioso e muito nutritivo. Os pratos típicos da montanha levam carne de lhama, coração de boi (tradição local), truta, frango e muito milho e batatas… de espécies muito exóticas e que não encontramos no Brasil… Mas experimente tudo com moderação para evitar "reaçoes intestinais indesejáveis".
Mesmo que você não goste de sashimi (peixe cru) tente experimentar o ceviche (de truta na montanha ou de peixe branco em Lima). O Peru inventou o ceviche e não comê-lo é o mesmo que ir à Itália e não comer pizza.
Passeios
Tivemos outra iluminação e compramos um pacote fechado de passeios e hotéis. Fica a impressão geral de que isso salvou a viagem. Os passeios foram todos acompanhados de guias muito bem preparados e com conhecimento do lugar e das histórias, além da estrutura de transporte ter sido muito boa. isso trouxe a sensação que cada passeio por si só seria sem graça e cansativo. Não invente de resolver isso já na cidade… o barato pode sair caro… Lembre-se, você não está na Europa nem nos USA…
Em Machu Pichu: É óbvio que uma coisa é olhar as ruínas numa foto da internet e outra é vê-las ao vivo ao alcance da mão. Tivemos essa oportunidade e não há arrependimento. Masssssss…
Só se chega nas ruínas passando obrigatoriamente pelo povoado de Aguas Calientes e, para chegar lá, tem que ser de trem. Ok, você pode fazer a "trilha Inca" a pé (entre Cuzco e Aguas Calientes), mas essa leva 4 dias e tem que ter disposição... Pra quem gosta do estilo, deve ser um prato cheio...
Voltando ao trem, ele é antigo, lento e a viagem dura entre 2 a 4 horas, quando não quebra (sim!!! Existe essa possibilidade!). Os peruanos tentam amenizar a viagem fazendo eventinhos no trem, musica e dança, mas, no final, fica uma viagem apenas razoavelmente bonita (algumas belas paisagens), mas cansativa. Abissalmente distante de um Bernina Express (na Suíça - pesquise no Google).
Saindo de Aguas Calientes para o parque: Para chegar ao parque (Machu Pichu que está no topo de uma montanha a 400m acima de Aguas Calientes) só é possível de duas formas: De microônibus (trajeto de 8km - 20min) ou a pé (trilha de 2km - 3 hs pra subir 1,5 h pra descer - a custa de muita disposição e joelhos em bom estado). O trajeto do ônibus é uma aventura dentro da aventura. Estrada estreita e abismos em toda sua extensão. Não há guard rails. Nossa vida nas mãos do motorista que, obviamente faz isso há anos… e deve ter algum tipo de treinamento e credenciamento pelo ministério do turismo (não cheguei a perguntar). Alerta: Filas enormes para pegar o onibus tanto para subir como para descer... e tem horários pre-definidos, dormiu demais e perdeu seu horário? Perdeu o ingresso. Não há repescagem... Vai ter que comprar outro. Se tiver vaga.
No parque das ruínas: O acesso tem quantidade limitada de pessoas e o horário de visitação é limitado entre 09 e 15hs. Há tres trajetos (e três preços). O melhor trajeto é o número 2. O número 1 não entra nas ruínas e o número 3 não visita totalmente as ruínas. Se você quer aproveitar bem a experiência e valorizar o perrengue de ir e voltar, não faça economia burra, pague o passeio mais caro. E pague o guia também. Só olhar as ruínas sem o guia é insosso e cansativo… Na décima foto você vai estar se perguntando "o que eu tô fazendo aqui...". Com guia, as histórias e explicações trazem sentido e dão lógica a tudo que você vai ver.
Leve chapéu (não falei boné, falei CHAPÉU, com abas) o sol é muito forte e queima. Pelo clima seco e pela altitude. Protetor solar e repelente de insetos tambem são obrigatórios. Isso vale para todos os passeios em ruínas (Não somente Machu pichu - em Cuzco tambem).
Muito cuidado com fotos e vídeos (principalmente selfies). O parque é uma infinidade de beiradas com pequenos abismos e platôs de alguns ou dezenas de metros de diferença de nível. Há poucos parapeitos de proteção (bem... trata-se de um parque tombado pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade… não dá pra por parapeitos…). Os casos de acidente (quedas) de turista "abestalhado" tirando selfie são frequentes.
Uma gratíssima surpresa: O tour gastronômico em Lima. Esse tour estava em nosso pacote. Nele tivemos a oportunidade de conhecer sabores peruanos surpreendentes de forma inusitada em cada parada. Vale muito a pena incluir no roteiro. Você conhecerá a história do país e da cidade (Lima) por meio da história de sua gastronomia, tambem com guia que explica tudo e com transporte de qualidade a nossa disposição.
Compras
Há muita opção relacionada a roupa. Mas roupa de frio. Você acha coisas belas a preços surpreendentemente acessíveis.
Se você é do norte e nordeste, pode até comprar, mas vai ficar guardado no armário. Não gaste seu dinheiro neste caso.
O artesanato é bastante diversificado na temática peruana e as opções de souvenir são muitas. Geralmente, os hotéis tem ofertas interessantes e de qualidade melhor que nos camelos a um preço pouco maior.
Como em todo lugar, as falsificações existem. Se você quer comprar uma encharpe ou um sueter de lã de alpaca (bicho local) fique atento para não levar "ching-ling" pra casa. A lã de alpaca tem o toque macio e frio... qualquer coisa diferente disso é sintético.
Dinheiro
O dinheiro do Peru é o “Sol” (S/). Mas, para nossa surpresa, o Dólar (americano) é amplamente aceito nas lojas, restaurantes e hotéis (não chegamos a testar com camelôs - acho que seria um abuso). Ao pagar uma conta em dólares, na maioria das vezes o câmbio é o mesmo aplicado nos hotéis e nas casas de câmbio…
Se pagar em dolares em "especie", o troco virá em Soles (após a conversão do câmbio).
Em minha avaliação (e de alguns sites que pesquisei antes de viajar), não vale a pena comprar soles no brasil. Compre dólares e faça câmbio para soles lá no Peru. Mas não troque tudo. Troque no hotel pequenas partes para 1 ou 2 dias para não voltar com excedente de uma moeda que você não vai usar (diferente do dólar que serve em qualquer lugar).
Se você pagar uma conta com cartão de crédito, eles perguntam se quer pagar com Soles ou Dólares. Escolha Soles sempre. O câmbio para Real é mais vantajoso.
Resumo geral (mandando a real)
Você está indo para conhecer as ruínas e a história de uma civilização incrível que viveu em nosso continente há quase mil anos. Foque nisso… se quer balada, vá para a Bahia, Ibiza ou Amsterdam. Se quer conforto, tranquilidade e descanso, vá para um resort.
Se você é obeso, sedentário, tem problemas respiratórios e/ou tem medo de altura, não vá. Invista seu dinheiro em 5 dias num resort "all incluse" no caribe ou no nordeste do Brasil.
Peru não é passeio para crianças. Não há nenhum atrativo pra elas. Você tem crianças mas quer conhecer o Peru? Deixa-as com os avós ou tios… Não tem com quem deixar? Esqueça o Peru e vá com elas para a Disney.
O Peru não é Europa ou Estados Unidos. Tem as dificuldades e os perrengues de qualquer país de terceiro mundo. Alguns confortos existem por conta da jóia do turismo que eles tem e que resolveram usar para ganhar dinheiro e melhorar a vida do país.
Lima, por ser a capital, tem infraestrutura bem montada. Mas não se engane. Miraflores, Barranco e San Izidro são os melhores bairros para ficar e conhecer. O resto é cidade grande com as broncas de cidade grande (transito, periferias, etc).
Nem pense em vir sem um seguro viagem. Ele funciona, o atendimento é muito bom e acontece em redes hospitalares particulares. Custa barato (pagamos R$250,00 por pessoa para 8 dias). Pague, guarde a apólice e esqueça essa grana. Se você ficar doente, vai ver o quanto foi inteligente esse investimento.
Se, depois de tudo isso ainda quiser vir, considere fortemente a contratação de uma agência especializada para hospedagem, transfers e passeios.
Concluindo
Depois de toda essa narrativa você deve estar se perguntando: Valeu a pena? A resposta é objetiva e simples: SIM, valeu a pena porque nosso objetivo era realmente conhecer “por dentro” a história, as ruínas e os artefatos da civilização Inca.
Repito aqui que todas essas observações são estritamente pessoais e tem como objetivo “desromantizar” a coisa... Machu Pichu é incrível e tem muito a ensinar sobre uso sustentável da terra e relação do homem com a natureza. Conhecendo a históra você verá que tem nada a ver com "deuses astronautas" (ou não... tire suas próprias conclusões). Mas chegar lá exige algum esforço, algum investimento e muita paciência… No final, valeu a pena pra nós.
Um último comentário: Cientistas e arqueólogos estão afirmando que as ruínas estão “afundando”… Poucos centímetros por ano, mas estão... Resultado do “turismo predatório” das últimas décadas. Essa constação científica levou a uma série de medidas do governo peruano para minimizar o impacto… limitação do número de visitantes, 3 roteiros e bloqueio do acesso a alguns sítios dentro do parque. Esses bloqueios só tendem a aumentar e o número de visitas deve diminuir gradativamente. Se você pretende ainda ter essa oportunidade de ver de dentro e ao vivo, considere uma ida dentro dos próximos 10 anos.

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